A CULTURA CONTRACULTURAL NA FORMA DE MÚSICA

No objetivo de agarrar o maior número de pessoas, as bandas atuais utilizam-se de métodos que descrevem as paixões ou ações de determinado grupo, normalmente classificado como maioria, para marcar sua estabilidade no trabalho com essa procura por identificação. O que acontece é que, enquanto se põe esse método numa sociedade desregrada, não é difícil imaginar que a descrição nas músicas passem a ser o que tal sociedade cultiva por conseqüência. No caso da nossa, a sociedade tem um fator básico da diversão por consumo de drogas lícitas e também muito provavelmente pelas ilícitas.

Sendo assim, a identificação das pessoas – que faz causar naturalmente alegria e diversão por isso – nessa sociedade é musicada sob os temas do álcool, cigarro e demais drogas, bem como os efeitos que as mesmas produzem.

Porém não é normal perceber que as conseqüências e os riscos sejam cantados em mesma freqüência. Pelo contrário, o que se vê são cada vez mais as bandas aprofundando-se nos temas que até antes era digno de não se “curtir”, mas que passam a se banalizar na forma de cultura mais difundida do planeta.

Podemos aplicar este método de análise ainda em qualquer sociedade atual. Utilizei particularmente a cultura “contracultural”, como assimilei chamar essa corrente cultural, do nordeste, do qual sem o exame da mesma, jamais teria essa reflexão. Porém, que se percebam através dessa teoria das paixões da cultura que podemos transpor esse método e obter as mesmas causas, porém com diferenças nas conseqüências, dependendo de que estilo musical se está sendo difundido em determinada sociedade. Se limitarmos esse estudo ao Brasil, cuja nação é dotada de um acervo cultural diferenciado imenso, podemos perceber e regionar, e ainda interligar as questões sociais em culturais. No nordeste, por exemplo, o forró tem predominância. Mas o que se diz “forró atual”, dividido ainda entre tantas outras vertentes, em suas misturas com o axé baiano, o funk e o brega, é, por incrível que pareça, resultado e reflexo mais da própria sociedade do que da tradição, não eliminando a importância da tradição como gênese que deu base para que as novas bandas sobrepusessem o estilo com novas músicas. Em outras palavras, o estilo forró não responde ao caso que se forma nessa cultura atual, e sim a própria sociedade daquela região que é reflexo e depois alvo dessas músicas de conseqüências incômodas. O estilo forró é apenas um aglutinador de pessoas que pode ser moldado por quaisquer tipos de letras.

Em outros determinados estilos a conseqüência nem chega a afetar tanto uma sociedade, bem como há estilos que não causam tantos efeitos à sociedade e que são inofensivos. Poderia eu dizer ainda que há estilos que não causam tantos efeitos à sociedade e que são ofensivos, mas reflito que, como uma sociedade que cultiva o que a cultura contracultural produz, isso não passaria de uma questão de tempo até que esse “estilo que não causa tanto efeito à sociedade e que são ofensivos” passassem a ser um gosto popular também.

Enfim, para experimentar essa minha postulação que se pode usar esse método em qualquer sociedade, usemos o mesmo no funk carioca atual e vejamos o quanto de riscos futuros pra sociedade podemos encontrar. Afinal, comparando-se uma cultura à outra, o funk não parece tão diferente do forró atual em termos de fácil assimilação popular e (in)conseqüências. O estilo pode ser diferente, mas a causa – atingir o maior número de pessoas que se sintam identificadas com o estilo – e a conseqüência – a não só banalização dessa cultura, mas as mentes novas que podem influenciar, e assim dando espaço a uma criação duma geração bem mais banalizadora que a atual -, são praticamente as mesmas. Eu acredito que para dar uma solução ao antieticismo da nossa atual cultura, que a educação de qualidade assuma papel fundamental na vida das pessoas, uma vez que é de onde a educação se ausenta que essa cultura surge. Afinal, culturas não se extinguem, não se deixam de existir; apenas se transformam naquilo que a sociedade é, pois uma molda a outra alternadamente. Se a sociedade é deficitária em educação, é natural que surjam culturas desregradas e sem nenhum limite de valor ético.

Com uma educação necessária, que por sinal jamais existira no nosso país, é que a cultura pode voltar a ganhar um status que não seja classificado como contracultura.

O QUE É CULTURA CONTRACULTURAL?

Aos meus olhos, a cultura contracultural é um termo utilizado para classificar a cultura gerada onde há a ausência total ou parcial da educação. É uma criação popular que não segue os padrões éticos de uma sociedade, e que por haver em sua característica a ausência da educação, não possui limites nem percepção de suas conseqüências. Sua existência dá, principalmente, pela subsistência financeira que gera, vide os condicionados sucessos do momento em que podemos duvidar que tais músicas sejam absurdos de estarem naquela posição de destaque. Mas é uma cultura como qualquer outra, com suas características distintas e seu direito de existir, assim como uma sociedade existe de diversas formas. Porém, ao levarmos o estudo de tais culturas funcionalisticamente, percebemos que os fatores de expressão de tal cultura é proporcional à ausência de educação daquela sociedade. Seria esta a gênese da cultura contracultural – que nada tem a ver com o movimento artístico do dadaísmo das décadas de 40-50.

Sociologicamente, a ausência de educação numa sociedade provoca profundas raízes que tornam seus indivíduos direta ou indiretamente afetados. Os que mantêm-se, de alguma forma, entre os que detém uma educação necessária para seu desenvolvimento social, de nada lhes garante – pois os mesmos sofrem as conseqüências da ausência da educação que lhes fora ausente (vide universidade pública), tanto pela família como pelo sistema de ensino básico, muitas vezes defasado nas escolas públicas(vide Brasil). Quando não se mantêm, os indivíduos, inseridos no fator falho que lhes fora a educação daquela sociedade, se resumem a determinadas funções, a que seu conhecimento necessário o limitara. Ou seja, ao passo que sua consciência – preparada e desmotivada por sua educação falha – não valoriza a educação, o mesmo se encontrará inserido cada vez menos nas profissões de nível técnico avançado e cada vez mais nas profissões de necessidade braçal ou que se permita fazer com pouco ou nenhum nível técnico. Isso quando, por revolta ou necessidade última, o indivíduo não passe a ser mais um agente criminoso.

Portanto, tal como uma sociedade, a cultura segue os mesmos caminhos. Onde há a ausência da educação, tal cultura será significativamente afetada, com suas próprias características, e suas próprias conseqüências, e ISSO é o que importa sociologicamente.

Já mencionei anteriormente e de forma exemplificada como essa forma pode afetar as pessoas quando usei o exemplo da cultura como a música, forma cultural mais difundida no Brasil. Funcionalisticamente, procurei encontrar ligações entre uma sociedade e a cultura de quem ela se alimenta. Percebi a educação como fator determinante de uma cultura tanto como de uma sociedade, ao passo que uma sociedade está ligada intrinsecamente à uma cultura, e vice-versa. Tentei encontrar respostas sobre como determinados estilos se mantém destacados como “sucessos nacionais” e “regionais”. Talvez seja ainda necessário abordar um outro tema para que nós tenhamos uma visão mais universal sobre o controle da cultura para determinadas sociedades, as tentativas de domá-la para determinados fins; esse tema pode ser encontrado facilmente nos estudos sobre o poder de manipulação da mídia para fins capitalistas e de domação da sociedade pelo estado. A comercialização da cultura, a criação pessoal do ser para a venda são exemplos da finalidade capitalista – e é o que ocorre atualmente com a música e que tenho discorrido então sobre os dois textos que abordam a cultura contracultural. Preferi usar o funcionalismo para denunciar suas conseqüências, tão inconseqüente nas mentes das pessoas que não entendem que tipo de música – de cultura – as gerações atuais e futuras estarão sendo moldadas.

Claudionor Gomes.

 
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