Resenha Crítica do filme: Como Água para Chocolate

O filme Como Água para Chocolate baseado em um livro de Contos de fadas de Laura Esquivel, (então mulher do diretor Alfonso Arau), repleto de fantasia, onde amor e ódio, abnegação e egoísmo, poesia e praticidade, se compõem numa obra-prima que conquistou o prêmio de melhor filme no Festival de Gramado de 1993.

No início do século XX, numa fazenda mexicana, na fronteira com o Texas, Tita a quem foi negado o direito de se casar, por ser a filha mais nova, e ter que permanecer ao lado da mãe Elena, para cuidar dela, vive um amor ardente de paixão, contida, apesar de correspondida, por Pedro, o qual acaba aceitando casar-se com sua irmã Rosaura, apenas para permanecer perto da mulher que ama.

Tita, que crescera nos braços de Nacha, cozinheira da fazenda, envolta nos aromas mágicos da cozinha, e orientada pela sabedoria desta, desenvolve o dom como ninguém, transpondo para os alimentos todas as suas emoções, e destes, pra os comensais. É o que acontece quando, sem querer, derrama lágrimas sobre a massa do bolo de casamento de Rosaura com Pedro, e causa em todos que o experimentam, além de uma extrema comoção, uma incontrolável ânsia de vomito. Já para as codornas com molho de pétalas de rosa (as quais lhe haviam sido oferecidas por Pedro), Tita transfere toda a sensualidade, no despertar da recordação do grande amor de cada um que se delicia com este prato, que potencializa e exaltação deste sentimento, e faz desabrochar toda a libido. É neste momento que, Gertrudis, contagiada pelo sentimento impregnado no molho, e exalando em toda a sua plenitude o odor das rosas, atrai para si o capitão revolucionário, e foge com ele, para profundo desgosto da mãe, e conquista da sua própria liberdade.

Desde os biscoitos de nata, ao “mole” (prato típico mexicano), todos os alimentos são preparados, envoltos num ritual onde a magia do elo alimento/vida, aroma/perfume, sabor/sensação, textura/sensualidade... se exacerba numa magnitude que deleita o paladar da alma.

Redimensionando o filme dentro dos postulados antropológicos, podemos analisar o poder da tradição familiar e o peso que ela possui imperando nas personagens. O conceito de liberdade aparece no filme como uma forma de rompimento das tradições familiares.

Recheado de exageros quase que ridículos, e de choradeiras extravagantes, típicas das produções mexicanas, o filme cumpre o que se dispõe a apresentar um conto de Fadas. Mas é claro que a essência do filme, não perde seu sentido; pois as relações profunda entre as personagens, exige uma interpretação específica e aprofundada, que torna, na minha opinião, mais interessante a interpretação dos atores do que sua produção cinematográfica.

ANÁLISE CRÍTICA. Correlação do filme Desafio no Ártico e o texto de Fanz Boas Um ano entre os esquimós

A vida dos esquimós, bem como seus hábitos, usos e costumes foram bem descritos por Franz Boas no texto um ano entre os esquimós, além de esmiuçar, descrever detalhadamente seus contos, lendas, crenças religiosas a mitologia dos esquimós.

Podemos analisar no filme Desafio no Ártico uma gigantesca discrepância existente entre a forma de olhar de mundo dos esquimós e o olhar de mundo que tem o civilizado. As duas concepções de mundo se entrelaçam de maneira harmoniosa no decorrer do filme; mas em primeira estância a etnocêntrica do industrializado, representado na figura do piloto de cargas, toma fez em seu discurso, ele nem imaginava qualquer tipo de relação com esse povo. “Eu mal imaginava que em pouco tempo olharia para aquele pequeno sujeito sujo, de cabelos compridos e olhos brilhantes, com sentimentos de interesse caloroso, para não dizer amizade; mal imaginava a cordialidade com que seria acolhido em suas pequenas cabanas.” ( p. 67 ).

Percebe-se no filme a significativa transformação que acontece no protagonista, onde inicia com o desespero diante da situação, na qual, eles se encontram, até que ele percebe que a jovem esquimó parece ser segura o suficiente para controlar a situação e tenta sem desespero algum sobreviver em meio às adversidades.

O entrelaçamento entre as duas culturas é o ponto crucial do filme, entrelaço este que é expresso na relação entre as personagens principais do filme, uma convivência de afeto e compaixão.

A forma como a materialidade é mostrada no filme é imantada na figura do ex-militar da segunda guerra mundial, não obstante, ao decorrer da relação com a esquimó, que por sua vez demonstra total desapego as coisas materiais, ele começa a “abri os olhos” e amadurecer gradativamente.

Correlacionando o texto de Franz Boas Um ano entre os esquimós com o filme Desafio no Ártico, podemos observar uma relevante semelhança na maneira com que são tratados os povos Inuits; Boas se relaciona como ele mesmo diz “(...) com sentimentos de interesse caloroso(...)”, ou seja, com total respeito. No filme esse sentimento de amizade é conectado ao processo transformação da personagem principal. Lembro-me que na cena de inicio do filme o esquimó é estereotipado pelo grupo de cidadãos que ali estavam, do qual, faz parte o protagonista, onde no roteiro é enfatizada a relação de hostilidade desse sentimento. No entanto no final do filme apesar de ser decepcionante falando como espectador, depois de ter passado por tudo que ele passou inclusive a morte de sua companheira, o roteiro do filme torna a enfocar a relação, agora positiva de amizade entre o povo Inuits e o estrangeiro.

A diferença entre o tratamento que o civilizado tem com o “estranho” e a maneira hospitaleira com que o povo Inuits trata o estrangeiro chega a ser gritante. Exemplo dessa discrepância como já foi mencionada a hostilidade do protagonista com o esquimó no inicio do filme; e a forma com que ele é tratado pelo povo Inuits na hora que é explicitado a confiança dos parentes ao deixar que ele leve uma esquimó doente. É claro que nessa ocasião o interesse financeiro pelas especiarias oferecidas desperta a ganância do civilizado.

Essa hospitalidade Inuits também é narrada por Franz Boas no final do seu texto o entusiasmo, excitação com que o tratou ainda ele sendo um recém-chegado. “Quando cheguei, os homens não sabiam quem iria chegar e formaram uma fila ( referência a cerimônia que é feita para recebe algum convidado ). Mas, assim que descobriram um homem branco, o primeiro a visitar sua aldeia, eles se puseram a gritar muito alto, o que induziu as mulheres e as crianças a saírem das cabanas baixas. Todos começaram a dançar, gritar e cantar, uma balbúrdia que ainda soa nos meus ouvidos. A novidade --- “Qodlunaq! Qodlunaq!”, isto é, “ Um homem branco! Um homem branco!” --- tinha-se espalhado com incrível rapidez por toda a aldeia. Todos estavam ansiosos para ver o recém-chegado; as crianças se escondiam timidamente atrás das longas caudas dos casacos de suas mães, gritando com medo e excitação. Em suma, foi uma cena que vai estar em primeiro plano nas minhas lembranças da vida dos esquimós.” ( p. 80 )

Analisando mais a narrativa que Boas faz do povo Inuits, podemos observar seu entusiasmo ao relatar e descrever os hábitos assim como as lendas desse povo. Desprovido de qualquer tipo de etnocentrismo, mas sempre observando com uma visão do outro, ou seja, Boas não expressa em nenhum momento a vontade de se tornar um deles. Descrição dos rituais, cerimônias relatos das lendas e dos contos enfim toda mitologia dos esquimós, dão sustentação a está maravilhosa e tão agradável narração, onde nós somos levados a imaginar cada minuciosidade descrita por ele.

 
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