Sons Subversivos

Alguma luz me fez refletir sobre o que vou escrever aqui hoje.

Sei que as condições muitas vezes de lugares de pesquisa parecem ser perigosas quando põe em risco a imparcialidade de uma descrição de qualquer cientista social.

E se ele não tiver métodos nem modos propícios, ele poderá diretamente passar para um nível pessoal e subjetivo.

Mas não mais falarei sobre o que os cientistas desse ramo sabem desde os primeiros dias em sua unidade acadêmica.

Procuro aqui relatar experiências vividas como forma de pesquisa - pois como não poderia deixar de ser, onde há campo de trabalho há trabalho, e como todos aqueles fatos com o qual procurei embasar esse meu raciocínio estiveram fora de mim sem nenhuma especulação pessoal, seria realmente de bom grado relatá-lo como uma pesquisa científica.

Pois bem.

Durante a noite de ontem estava eu numa pequena boate de espaço totalmente fechado, onde se podiam ver as caras das pessoas somente com as luzes que se acendiam.

O gelo seco espalhava-se intermitentemente pela escuridão ao longo de todas as pessoas que ali escutavam música de um DJ paulista ou carioca que estivera fazendo uma espécie de turnê por nosso estado. A combinação som-iluminação-efeitos tornava aquele espaço passível de se dançar, e foi o que muitas pessoas o fizeram. Durante toda a noite.

Poderíamos até aqui ler esse texto, mas ainda sem entender o sentido. Até agora foram tudo panos de fundo para que o ambiente fosse relativamente necessário sobre a indagação posterior por parte de mim.

Durante um período de quase 3 horas completas estive nesse local - certo de que poderia me divertir - mas sabia que para minha própria satisfação seria necessário outros tipos de música a quais me rendo e que sabia que jamais tocaria naquele lugar. Portanto, eu me considerava neutro diante de todo e qualquer fato que ali se sobrepusesse. Sem restringir minha ordem de análises, procurei ver os fatos e imaginá-los imediatamente por sua finalidade. Tentei levar em consideração diversos fatores, tais como:

* As pessoas têm uma geral filosofia de que aquelas músicas são somente para se divertir como ali estava ocorrendo;

* O ambiente de estréia da nova iluminação abrigou centenas de pessoas das quais não conhecia suas respectivas identidades, porém sabia o motivo de terem ido - a diversão com talvez um pouco de curiosidade.

O que importa é que não se vira nenhuma dessas pessoas paradas diante das músicas que variavam naquele lugar, a não ser eu e outra pessoa, sem a qual não iria ser possível ir para este local tentar automaticamente passar a analisar o que aqui relato. Os estilos musicais oscilavam entre música eletrônica, funk, pagode, reggae e forró. E essas características são consideradas normais para uma boate, o que me faz pensar em generalizar esse fato em todos os domingos que pessoas se reúnem por este mesmo propósito naquele local. A diferença seria que o número de frequentadores não fosse o mesmo todos os dias. Mas deve-se levar em consideração que apenas uma pessoa iria inúmeras vezes para este mesmo lugar, sob os mesmos propósitos.

Tendo em vista todos esses fatos acabei montando diretamente um raciocínio final: quais as consequências de se estar em lugares assim? Temos que nos ater aqui a uma coisa: jamais levaria em conta o que EU indagasse sobre minhas próprias consequências, se o que me importava era justamente saber o que AQUELE conjunto social estaria ganhando ou perdendo. Isso significa que essas consequências não podem ser vistas subjetivamente como se fossem minhas consequências. Prosseguindo, tomei a liberdade de indagar naquele momento, naquele lugar, naquelas condições em que muito me assemelhava às pessoas, se não fosse a ingestão de álcool por parte delas e da falta de motivos por parte de mim em aproveitar aquela noite como qualquer um. Desejei ressaltar isso porque considero uma pesquisa social que seja totalmente empírica, onde só se pode relatar aquilo em que se pode pesquisar concretamente. Talvez é aí que esteja meu limite de subjetividade durante essa pesquisa: a escolha do método.

Pois bem, o que mais me chamou a atenção e me fez ter uma visão acima de qualquer pensamento ingênuo daquelas pessoas foi realmente levantar quais as consequências possíveis daquele conjunto de fatos. Mas vamos entender o que eu considerei: os fatos por si só, acredito eu, não levam as pessoas a isso, pois se assim fossem eu estaria também agindo da mesma forma que todos, já que eu estava lá. Sou prova disso. Outra relevância é que as pessoas tinham muitas das músicas - das quais eu não costumava escutar em minha região - com suas respectivas letras na ponta da língua. Isso pode ser "sintomas" de músicas que se repetiam naquele mesmo lugar durante todos os dias em que ele estivesse aberto.

Fator importante para se encontrar respostas para minha finalidade-mor deste texto: a própria música.

Eu acredito que a música exerce muito mais do que a vontade de se divertir. Em qualquer lugar, se você tem alguma preferência musical, poderá agir rebaixando outros estilos ao ouví-los. Enquant0 que, ao ouvir suas próprias canções escolhidas, um sentimento de satisfação estará dentro de você. Isso é fato. Mas vamos levar essa consideração ao ambiente ao qual escolhi pra relatar.

Eu procurei respostas que me envolvessem nas certezas daquelas consequências. Acho que as encontrei, mas antes de revelá-las, devo informar as consequências que se tornam O PONTO IMPORTANTE desse texto.

Num lugar propício, onde a liberdade se parece assegurar as pessoas de diversas razões, já que o sentimento de liberdade por ter pago para entrar e por isso ter direito de estar ali, livre, se combina com muito o que se vê depois dos portões daquela casa de show.

Sabemos que a fiscalização quando não-rígida permite a entrada de menores de 18 anos nesses lugares. Quando o que importa é a venda de ingresso, nada de justo se pode interessar. Muitos seguranças só barram pessoas quando elas entram com algum material que machuque alguém lá dentro. E a casa de show não exibe conteúdo adulto, por isso é liberado para gente que seja um pouco mais jovem que 18 anos.

Dentro de um espaço relativamente pequeno e fechado, as pessoas fumam e a fumaça não escoa senão dentro do próprio nariz dos fumantes ou das pessoas não-fumantes, que sofrem mais com isso. Os jovens têm mais contato com álcool, cigarro e qualquer outra droga que possa ser oferecida no local. A fiscalização não proíbe nesses lugares o consumo de drogas lícitas por parte dos jovens, visto que o álcool ingerido lá dentro é vendido pela própria casa de show. Por fim, quem procura esse caminho não nasce com esse desejo.

A partir de contatos desde a infância ou em qualquer outra idade a pessoa está passível de aprender a viver nessas condições passíveis de serem novos frequentadores destes mesmos locais e consequentemente usuários dessas mesmas drogas. E o caminho possível que leva essas pessoas a este "estilo de vida", se é que podemos chamar isso, é justamente capacitado, a forma cultural mais presente na vida do ser humano. Basta vermos a alta possibilidade de a música influenciar as pessoas, com toda sua alienadora aparência de que é inofensiva.

A música é altamente passível de conspirações, e como ela se apresenta atualmente em nossa região, com suas apologias ao uso de substâncias que desnorteiam o ser humano, se torna perigosa e influente para todas as camadas populares.

Portanto, finalizo este texto dando importância às principais coisas aqui tratadas: a influência musical pode tornar a sociedade indiferente da imprudência que se vê hoje no consumo de drogas lícitas, pois fazem o indivíduo, principalmente os mais ingênuos, entrarem neste tipo de mundo à procura de normalização junto à sociedade que este pertence.

Escrito por Nô Gomes.

 
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