Culturas Contraculturais

Minha participação como cientista social me faz procurar entender e explicar o presente, sem a apologia de que existem coisas na sociedade que não fazem sentido. Se não nos é inteligível, ora para outros é, pois foi por esses que o objeto que estejamos falando ainda exista.

Minha visão é essencialmente à procura de uma normatização do agrupamento social, seja ele em que dimensão participar. Mas para se preocupar em normatizar algo, é fundamental - talvez mais até do que qualquer finalidade normativa - conhecer o que se pode ser descrito, seja para ser reaproveitado, criticado, enfim, como base de iniciação sobre qualquer dissertação a respeito do tema.

Não espero ser visto como um contraculturalista; pelo contrário, me preparo a tratar a cultura como uma forma polêmica, se em certos momentos passa a ser cultura ou mera produção comercial sem um fundamento cultural. Mas se cultura pode ser um hábito em geral acolhido pela sociedade, talvez não haja regras sobre o que é ser cultura e o que não é.

Enfim, gostaria de salientar que em certos momentos a cultura parece tão ameaçadora - ameaçadora sim, pois não se pode valorizar a cultura na mente do senso comum que chega a pensar: "Veja o que é cultura, nasce bela e se dimensiona para essa insignificância. Nossa, quanta evolução, hein?" Mas a cultura não evolui, mas para eles sim, e que se escurrace o estudo das culturas enquanto não reconheçam como produtos e só, e não uma produção cultural o que se vê atualmente.

Não pretendo proteger o senso comum, porém a própria cultura atual assume uma característica com aspectos dadaístas - logo pode ser um ponto para que a cultura atual seja considerada uma cultura.

Bom, se a cultura atual é cultura reconhecida, isso não é revoltoso. Mas seu caráter de contracultura - mais devastador que o dadaísmo da guerra pelo fato de ser essencialmente capitalista e agora sem sentido, não por um movimento de crítica artística e sim por não haver nenhuma ênfase poética e de cunho social como antes -, é algo digno de esclarecimentos. Se existissem medições culturais, o que é mais cultural e o que não é, ou qual produção humana é cultura e qual não é, essa contemporânea seria chutada forçosamente para fora de um padrão cultural.

A questão se mantém para os cientistas a favor ou contra a agressão da cultura atual, por ser mais comercial que ideológica, com algum sentido além do dinheiro.

Estamos certos de que os modos culturais se renovam e se invam em todos os momentos. A história comprova isso. Mas minha preocupação atual com a cultura é justamente o fato do caminho que ela está tomando e a influência social que ela exerce.

Mas afinal, é a cultura que guia a sociedade ou a sociedade que guia a cultura?

Sabemos que uma está intrinsecamente ligada à outra que fica difícil responder a essa questão, mas devemos nos abster realmente que acontece os dois. Ou a cultura já existe e torna a sociedade sua existenciadora, ou a sociedade monta uma cultura para se manter como uma sociedade.

Finalmente, a cultura atual se vê entregue ao dinheiro de uma forma tão excessiva que para ela não existe consequências. Na verdade, a omissão da consequência é o que faz tal cultura existir. Músicas diárias com temas ligados à traição, ao sexo sem limites e sem respeito, à ingestão de drogas partem das camadas menos abrangentes da educação no Brasil e se espalham por todo o país, por todas as classes sociais. A explicação desses tipos de músicas serem gerados nas camadas pobres ou periféricas da sociedade reforça minha teoria de que a cultura agora está se formando pela FALTA DE EDUCAÇÃO necessária que se encontra ausente. Pois do contrário, músicas assim sequer seriam vistas com bons olhos (partindo para uma crítica pessoal e sendo assumidamente contra esse tipo de cultura, não consigo entender quais bons olhos podem existir para essas aparições, ou se eu escrevi foi um erro por tentart encontrar palavra equivalente ao que queria demonstrar).

Portanto, para finalizar, cheguei à conclusão que o chamado "sucesso do momento" já foi há anos reflexo da sociedade, a exemplo dos cultos cantos boêmios dos anos cinquenta, dos anos rebeldes da jovem guarda dos anos 60-70, do grito de liberdade dos anos 80 e, dos anos 90 para cá, da venda das letras para o mercado e a transformação da música temática para a música defasada.

4 comentários:

  1. WiLL Nascimento disse...:

    Cara bom texto esse fazia tempo que eu lia um texto dotado de passividade defensor de algo; mas porem minhas entranhas se sacudiu ao extremo ao ler-lo, não posso concordar com você no seguinte aspecto: É a sociedade claro que guia a cultura, pois a final de contas quem consume a cultura não é a própria sociedade? A cultura em aspectos sociológicos, pra deixar bem claro isso, sempre foi, é e sempre será algo consumível, ou por acaso você acha que José de Alencar quando escreveu "Senhora" ele não estava pensando no aspecto mercadológico também.
    Da maneira em que você colocou no texto mim deu a entender, quando você menciona FALTA DE EDUCAÇÃO se referindo a cultura, que você então só considera cultura aquela feita pela elite bem escolarizada? A cultura dispensa ao meu entender qualquer tipo de padronização que se posa fazer, a cultura é feita por todos, todos aqueles que a modificam constantemente; a cultura é democrática a todas as classes, voltando ao exemplo que dei de José de Alencar; ele também como tantos outros escrevia para um publico especifico, escrevia pra agraciar o ego de um certo tipo de elite de sua época. E se esse exemplo não te satisfaz do maior literato do Brasil Machado de Assis.
    Por fim, a cultura engajada politicamente com o objetivo de conscientizar as pessoas é muito importante, mas não podemos desconsideram as outras manifestações culturais vidas na maiorias das vezes das camadas periféricas da sociedade, nem tudo que vem da favela é crime, trafico, e tiroteio; lá também tem Cultura que reflete, claro, vivência daquele povo.

  1. Anônimo disse...:

    Caro Will, concordo com a sua posição da democracia da cultura. Também entendo que a mesma deva ser assim. A grande questão que perambula pelo ar é que eu não quero dizer que a sociedade em falta de educação não deve ter cultura assumida. Claro que deve ter, pois estamos num país multicultural, e só para aqueles que não entendem isso se torna um conflito. Vide os conflitos de religião, de preconceitos raciais, etc.
    O que quero apresentar-lhe, bem como a todos os leitores desse blog não é a não aparição e a falta de direito de uma cultura que não é dotada de educação (que não é necessariamente uma parte da classe elitista, mas que no Brasil infelizmente acaba sendo, mas não deveria ser assim), mas as consequências da mesma quando é adotada como cultura que guia toda uma geração. Refiro-me que isso traz consequências graves, pois onde se ausenta uma educação (que deveria ser universal e ensinar a ética humana), somos substituídos pela cultura que extrapola o eticismo, que torna indiferente as ações que desorganizam a sociedade como o crime e o sexo. Volto a me referir que o problema não é a criação de uma cultura por uma camada da sociedade que abraça essas culturas, mas como a mesma é padronizada nacionalmente como "os sucessos do momento" que torna o senso comum um alvo de fácil assimilação e que termina por dominar a cultura do nosso país. Isso faz com que a mídia se volte a questões como a valorização ao sexo, ao "senta que é de menta", ao uso de drogas, que traz consequencias graves ao nosso país. Enfim, trago-lhe a cultura contracultural em seu sentido mais completo no texto posterior a este, pois este nada mais é o rascunho da criação da reflexão sobre a cultura contracultural,enquanto que o outro é a reflexão completa. Espero que voce leia e comente o que entendeu, excluindo qualquer pré-conceito desse texto infame e complexo do qual lhe rendeu digna crítica, mas que ainda não entendeu minha finalidade, pois espero que entenda na dissertação sobre "a cultura contracultural na forma de música".

  1. Meu Brother Nozinho, meus parabéns pelo texto. Mas também tenho minha ideia do seja cultura (em partes concordo com Will)quando pensamos que dentro da sociedade existem varios tipos de expressoes culturais (principalmente no nosso "amado" país com tantas, mas tantas expressoes culturais) vale enfatizar que existe as dois lados dessa moeda, de um lado vemos a pequena mas ainda presente cultura concientizadora, e de outro um enorme presenca da cultura alienadora( nao quero "puxa o saco para nenhuma") mas nao podemos menospressar a que a maioria das pessoas se sentem atraidas pelo tipo de cultura alienadora ou momentanea.

    parabéns, mas vale o meu comentário. PENSE NISSO!!!

  1. Anônimo disse...:

    Grande Diogo, voce entendeu sobre a sociedade brasileira ser levada a fazer parte da cultura alienadora. Isso reforça minha concepção de que nossa sociedade, por mais rica que seja em relação à cultura, está de acordo com o que lhes é implantado culuralmente através da mídia, Por exemplo: se a cultura conscientizadora traz algum retorno considerável para as camadas que comandam a mídia, esta fará com que a cultura conscientizadora seja a grande cultura que guia grande quantidade da população a que a mídia interessa em abocanhar. Infelizmente o que acontece hoje é o contrário, é a superioridade na mídia da cultura alienadora. Se a sociedade fosse mais politizada, por exemplo, todos veriam que isso não passa de um jogo político das camadas dominantes para sedar a maioria da sociedade, que se encontra influenciável e sem saber questionar isso (a falta da educação promove a indiferença).
    O certo é que, no Brasil, tudo é controlado. E as culturas brasileiras, que deveriam ser independentes de qualquer manipulação, passam a ser utilizadas pelas camadas políticas para complementarem seu sistema social da indiferença. O nosso problema cultural, portanto, é a mídia se utilizar da cultura alienante, que tem logicamente todo direito de existir, mas que, fazendo parte da cultura da maioria, faz o Brasil ser sempre omisso como é hoje.

    Preste atenção no que a maioria gosta de ouvir e veja a relação com o que o governo realmente quer.
    Músicas ambíguas ou ingênuas demais estão fazendo sucesso que muita música politizada. É gosto popular controlado através da educação.

    Abraço!

 
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