Ciência

O que é a ciência, finalmente?
Resposta pra tudo? Resposta pra todos? Solucionadora de problemas? Melhor caminho? Caminho mais exato para o conhecimento? Essa crença é constante, principalmente pelos detentores de senso comum. E é de querstionarmos se não é defendida àqueles interessados na sustentação desse discurso. Fui amplamente afetado quando Rubem Alves (em Filosofia da Ciência) disse que a ciência poderia ser explicada como um refinamento do pensar sobre determinado objeto, de modo a aprofundar-se a ponto de especializar-se, ao passo que, proporcionalmente, ela perde a visão geral das coisas. De fato, existem várias ciências. Dentro de cada ciência, sua própria especificidade. Não temos mais, por ela, como perceber uma continuidade ou a existência de uma comunidade científica que se complete ao resultado das outras, a ponto de dar conta da horizontalidade de respostas para todas as coisas. A interdisciplinaridade entre as ciências é um tema contemporâneo, mais contemporâneo do que nunca, inclusive. Ela demonstra que a sua dificuldade de implantação permite perceber que os resultados obtidos pela ciência são mais contraditórios entre o próprio campo científico do que somativos para a horizontalidade de respostas. A busca da verdade, sempre o objetivo final a ser trabalhado e verificado pela ciência, é desmascarada pelas escolhas institucionais. A verdade passa a ser tida, mediante este desmascarar, como produto de uma relação de poder que envolve diversas técnicas - entre elas o convencimento e os crivos científicos próprios de cada instituição científica -, demonstrando assim uma relação de poder para dizer o que é e o que não é verdade. Pelo modo como o senso comum se guia, o qual muitas vezes se estrutura em postulados científicos e até absorvendo muitos desses postulados para se ordenar no mundo, muitos argumentos científicos se tornam socializados, o que é fundamental para que determinado argumento defendido pela ciência seja internalizado como verdade. Entendo que a ciência cumpre um papel importante na sociedade, ainda que ela se articule a se mostrar neutra e ainda que essa neutralidade seja uma forma de escapar às culpas pelo uso da ciência. O uso científico é uma questão difícil de ser localizada e responsabilizada. Seus resultados são, na maioria das vezes, usados por uma determinada classe fortemente influente na sociedade para a dominação e defesa de seu próprio status. Muitos cientistas, ao analisar os usos que foram feitos das contribuições científicas, passaram a negar a neutralidade e tomar posição para apoiar determinados grupos da sociedade de maneira explícita, a exemplo dos cientistas que trabalham em prol de camadas oprimidas ou passivas da sociedade que sofreram ao longo dos anos com o uso da ciência por grupos envolvidos no processo de dominação social. Tendo a ciência enfim uma visão de valor, assim como valorativos são os saberes filosóficos e teológicos, fica mais fácil compreender a posição científica no mundo e aceitar ser cientista dentro dela, permitindo uma aproximação do real a partir de uma classificação alternativa de fatos que constituiriam o fenômeno existente - pois ainda toma-se que o real é aquilo que acontece -, onde quem vai dizer finalmente se é plausível ou não é aquele que legitima de fato, ou seja, o próprio ser humano, seja em sentido comum ou científico. Assim, os cientistas creem na ciência, os religiosos no seu campo religioso, os filósofos no questionamento e reflexão individual, e assim caminha a humanidade.

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