O Novo Ópio do Povo.

Marx diz que o ópio do povo é a religião através de análises com sua teoria da estrutura e superestrutura. Depois, o ópio do povo poderia ser entendido por outros autores como o bem-estar social que a ideologia e as condições capitalistas criaram juntamente com seu desenvolvimento, tornando essenciais para tal sistema a relação direta entre consumo e produção em torno do lucro e só isso já seria o suficiente para a manutenção do sistema e pra abrir outros caminhos que reforçariam o capitalismo (a moda, a mídia, etc.). Pois bem, a situação hoje não parece diferente em termos de capitalismo, com suas contradições eternas e sua - já compreendida por nós - forma de organização social desarmônica. Mas o que chama atenção hoje é a indiferença, em se tratando de Brasil ( logo, não abordando necessariamente o capitalismo mundial, embora talvez no mundo ocorra do mesmo jeito talvez, ou não, mas de certeza e por isso, eu abordo nesse momento somente o nosso povo tupiniquim inseridos nesse sistema social) em relação aos problemas gerados pelas características do capitalismo atual. Como exemplo, dentre os de todos os dias que poderíamos colher no nosso extenso país, peguemos a situação calamitosa da crise na saúde do Estado de Alagoas atualmente. Um problema do Estado e do Governo que estão sem condições de manter para o setor público (e entenda-se público no sentido mais amplo que se possa ter) da saúde funcionando por irregularidades no salário, fruto muito provavelmente dos desvios de verba em todos os lugares do país que fazem refletir os impactos justamente no setor populacional. É ridícula a situação e condição que o médico do setor público se encontra hoje, com seu salário de fome pra atender um grande contingente de pessoas todos os dias e locais inadequados de trabalho e falta de equipamentos, juntamente com seus auxiliares que em certos hospitais que cobrem o SUS não receberam ainda nem seu primeiro salário do ano. A situação como sabemos através dos jornais é clara e nos indigna. Não só em Alagoas, mas no Brasil todo, vêem-se hospitais e postos de saúde fechando as portas a mando da vigilância sanitária, que faz seu papel de tentar pressionar as reformas nos lugares que não deveriam ser considerados centros de atendimento médico, mas verdadeiros chiqueiros devido a falta de fiscalização e de verba para manutenção desses centros. Não só na saúde, mas nas diversas áreas públicas da sociedade que precisam se manter através do capital, como a escola e as reformas comunitárias. E sabemos principalmente que esta falta de verba não é fruto de uma pobreza nos cofres públicos, visto que os impostos que cada um de nós somos destinados a pagar somam montantes capazes de ao menos atender as necessidades urgentes do povo brasileiro, se não fosse a corrupção. A corrupção hoje se traja de um fator cultural muito peculiar no Brasil, o famoso “jeitinho brasileiro” a que encontramos em todos os lugares, em todas as profissões, sempre em busca de algum retorno positivo a quem pratica-lhe ou as regalias a quem o praticante oferece aos que saem na vantagem com isso. O “jeitinho brasileiro” hoje se tornou sinônimo de esperteza, quando no fundo prepara potencialidades de corrupção em cidadãos que dele se vale hoje, mas que depois pode cometer crimes públicos cada vez maiores e que seus praticantes continuam se sentindo legitimados em suas ações por cometerem tal “jeitinho”, típico do Brasil. Cotidianamente é possível perceber as pessoas querendo passar outras para trás como fruto desse fator cultural típico, onde o que se importa é a sua vantagem e não a conseqüência negativa para os outros. Pois bem, dá para notar a semelhança com a situação da injustiça hoje do setor público e dos que se satisfazem com os desvios de verba com essa esperteza do Brasileiro? Não seria essa corrupção brasileira fruto também de um “jeitinho brasileiro” em potencialidade? Tanto que é difícil você estar hoje num cargo de deputado com empregos vagos de assessoria (onde o indivíduo que viesse ocupá-lo poderia atrapalhar suas regalias do cargo e talvez denunciá-lo por qualquer eventual ato que este considerasse como erro) e seus familiares estão desempregados e não dar um “jeitinho” para empregá-los também. Crime de nepotismo. Jeitinho Brasileiro. Você se importa mais com sua família do que outra, por isso que quer antes de tudo dar garantias de que sua família está empregada e estável numa sociedade de concorrências. Isso não é crime se você fizer isso fora do setor público, naturalmente. Mas acontece que o errado, e onde tem sido rotineiro se ver acontecer, são as influências pessoais de indivíduos grandes em instituições públicas onde teus familiares via nepotismo assume os cargos. Após essa explanação, gostaria eu de levantar uma questão nesse momento. O capitalismo prepara a desarmonia. Cada lugar tem seu modo de ser desarmônico e por isso cada lugar também tenta resolver seu problema. A educação no sul não é tão problemática quanto a do nordeste, por exemplo. Portanto, o objetivo desse texto não seria outro senão abordar os motivos da indiferença humana e falta de cidadania de grande parte do povo brasileiro. Finalmente, creio que nossa indiferença também é fruto de um ópio: não a religião, não o bem-estar social. Mas, acima de tudo, a nossa própria cultura. Uma cultura capitalista e brasileira. Tenho minhas convicções de que ela contribui para manter-mos sedados enquanto somos vítimas de crimes e perdemos nossa saúde e conhecimento. O que vocês acham disso?

2 comentários:

  1. WiLL Nascimento disse...:

    Muito bom você refletir sobre esse assunto. Porem só queria dá uma dica de leitura para aprofundar essa temática, que são os clássicos do pensamento social brasileiro com destaque principalmente, visto que você cita em seu texto o Jeitinho brasilero, que Sergio Buarque de Holanda vai chamar de cordialidade. Enfim não quero me aprofundar muito por que só lendo esse belissima obra para absorver as ideias dele, que eu falando aqui seria insuficiente. Então fica a dica Sérgio Buarque de Holanda Obra: Raízes do Brasil.

  1. WiLL Nascimento disse...:

    Não só sergio Buarque como tambem, como não deixaria de esquercer, Roberto Da Matta em que ele já vai tratar isso com a maladragem brasileira (se bem que na minha opinião ele tem um visão meio ingenua nesse assunto), mas não deixa de ser um autor para se interlocutar. Obras como: O que faz brasil, Brasil e Carnavais, Malendros e Herois, são um bom começo de leitura em Roberto Da Matta. Para aprofundar essa tua temática colocada nesse texto.

 
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