O Negro e a Escola

Durante o período da Escravidão aqui no Brasil, os escravos eram impedidos de estudar; a Coroa Portuguesa e a igreja Católica não deixavam que isso acontecesse; o ensino era dado para os brancos e afro-brasileiros livres; para os escravos, entretanto, não havia nenhum tipo de educação.

Segundo um censo de 1872, havia no Brasil 1.509.403 escravos, dos quais, apenas 1.403 sabiam ler e escrever, ou seja, 1 para cada 1.000. Assim como no passado, o analfabetismo é hoje muito comum entre a população negra; conforme o censo de 2000, dos 15,3 milhões de analfabetos acima de 15 anos existentes no Brasil, 9,7 milhões são formados por negros e negras, isto é, 18,7% do total. E mais: apenas 2% dos negros têm acesso ao ensino superior, contra 98% dos brancos. Isso é um absurdo num país em que metade da população é de afro-descendentes!

Após a abolição da escravatura não foi tomada nenhuma medida que visasse enquadrar o negro no todo social. O país, querendo industrializar-se, preferia motivar a vinda de estrangeiros ao invés de qualificar a mão-de-obra negra.

Passou o Império, veio a República Velha, o Estado Novo, a Ditadura Militar, a Nova República, e os negros sempre distantes dos bancos escolares. Segundo o censo de 1980, apenas 1,1% dos afro-brasileiros terminaram o 2º grau. O que são 1,1%?! A evasão escolar sempre atingiu mais os afro-descendentes do que os brancos. Isso se deu e se dá pelos seguintes motivos:

- De família pobre, o negro cedo começa a trabalhar para o seu sustento e o sustento dos seus;

- O que é apresentado nas escolas é distante da realidade das crianças e dos jovens negros; os livros didáticos trazem sempre pessoas de pele branca, e quando um negro aparece é numa condição inferiorizada.

Ora, diante de uma pedagogia excludente, e da necessidade familiar, o negro não vê sentido algum em continuar na escola!

Como fora citado acima, apenas 2% dos negros têm acesso ao ensino superior. O sistema de cotas, implantado em algumas universidades, surge para reverter essa conjuntura. Atenção! O sistema de cotas não vai acabar de vez com a praga do Racismo; vai sim garantir um direito previsto para todos na Constituição: o direito à educação. Há pessoas que tentam desqualificar de todos os modos essa política afirmativa, chegando até a assertar que os cotistas têm dificuldades em acompanhar os “outros”; crítica totalmente infundada.

É preciso atentar para outro fato: o negro, por meio das Políticas Afirmativas, está entrando nas universidades, entretanto, ele se depara com pouquíssimos ou nenhum professor negro (na Ufal eu só conheço um!).

Diante de toda essa problemática envolvendo a educação dos afro-brasileiros, foi sancionada a Lei nº 10. 639, de 9 de janeiro de 2003. Essa lei determina a inclusão no currículo oficial da rede de ensino da temática “História e Cultura Afro-Brasileira”. Tal iniciativa tem por objetivo a valorização da contribuição do negro na formação do Brasil, em todos os aspectos: social, cultural, econômico, etc. Mas é preciso labutar para que esta lei não fique apenas no papel; o tema deve ser abordado freqüentemente. É de grande necessidade fazer com que o negro, a negra conheça melhor a sua história, a sua cultura, e sintam orgulho de ser o que são.

Frei Betto, no seu livro “O Vencedor”, colocou sábias palavras na boca dum certo personagem seu: “Não é ruim ser negro, ruim é o preconceito que pesa sobre o negro”. Não seria necessário escrever mais nada, mas é bom recordar que a educação, segundo o grande Durkheim, é a forma que a sociedade encontra para se perpetuar, através da transmissão de conhecimentos; se não quisermos deixar como herança para os nossos uma sociedade preconceituosa e excludente, é necessário arregaçar as mangas desde já.

 
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